By Clovis Peres and Vanessa Guazzelli

Janeiro 2016

Por Clovis Peres e Vanessa Guazzelli Paim

CLOVIS PERES: A astrologia, repetimos, só num segundo momento serve ao profeta ou ao adivinho, pois que o símbolo, o planeta entre o céu e a terra, é convenção e ação, para além do signo, que serve à lógica do pensamento, e do sinal, que serve à existência do corpo. A compreensão, que abraça a luz e a sombra, o peso e a leveza, é o outro lado da ação, o que permite, no final das contas, aprender a lidar com o que irrevogavelmente passou e reconciliar-se com o que inevitavelmente existe¹.

Em tempos de lama e sangue, sob o signo do Sagitário, da metamorfose, somos, necessariamente, levados à consideração do caminho (Dao) que, nas palavras de Sun Zi², é o primeiro dos cinco fatores da derrota ou da vitória em um conflito qualquer. O assentimento popular, a unidade de pensamentos dos governantes com os governados é o que permite que compartilhem as tribulações e sigam juntos, na vida ou na morte, com lealdade e sem intenções contrárias. Sem essa concordância cada um age por si contra todos os outros e arruína-se a nação.

No ocidente, Clausewitz³ considera que os principais poderes morais são o sentimento nacional, as virtudes guerreiras de um povo e o talento dos chefes, e associa o sentimento nacional de entusiasmo e fé ao conflito conduzido em regiões montanhosas, que chamamos de Saturno-Lua, em que cada um está entregue a si próprio. A habilidade técnica e a coragem de ferro, a fileira cerrada, que chamamos de Marte-Vênus, ele atribui ao conflito em campo raso, enquanto o talento estratégico, que dizemos Júpiter-Mercúrio, é associado ao conflito em regiões com vales, acidentadas, supondo que, nas montanhas, a unidade de ação é difícil por causa da dispersão, e, na planície, essa unidade é muito simples.

No trivial dos dias a Lua é imagem do que passa e Saturno do que dura, e, entre os dois, a servidão e a liberdade; Vênus é a figura do desejo e Marte do que se faz para realizá-lo, e, entre os dois, a paixão e a razão. Mercúrio, palavras, Júpiter, ações, e, entre os dois, amor e guerra.

A astrologia pratica a unidade do céu e da terra através das ações humanas, sem as quais nem a terra e nem céu existiriam. É óbvio que a profecia, que é o anúncio da realização de algo prometido, atravessa o mundo na esteira das religiões, e que a adivinhação desenvolveu-se extraordinariamente na modernidade iluminista, agora travestida de experimental e isenta. Mas esse não é um problema dos astrólogos que só entretecem infinitos laços do ínfimo com o imenso, da destruição com o artifício e da miséria com a riqueza.

VANESSA GUAZZELLI PAIM: Travessia sempre nômade, por entre vales e platôs, nas regiões acidentadas, é aqui a ação do astrólogo. Um clarão acende profundo na noite escura, um bálsamo suaviza a claridade e hidrata os sonhos. Os olhos, agora com mais nitidez, agem sua realidade. É sempre num aqui e num agora o estar vivo – vibrante e mansa, perigosa e docemente.

¹ A Dignidade da Política, Hannah Arendt, Relume-Dumará, RJ 2002, p. 52
² Arte de la Guerra, Sun Zi, Ediciones en Lenguas Extranjeras, Beijing 1994, p. 13
³ Da Guerra, Clausewitz, Martins Fontes 1996, Trad. Maria Teresa Ramos, p. 187-188