Dançarina Aysha Aimee dando corpo à Lua Negra Lilith em Touro.

 

Dando Corpo ao Impossível

 

21/Oct/2020 a 18/Jul/2021 (Nodo Médio e principal)

27/Apr/2020 a 16/Nov/2021 (Nodo Oscilante e adicional)

 

Por Vanessa Guazzelli

Lua Negra Lilith em Touro diz respeito a materializar e moldar a forma pela qual a energia flui em nós, através de uma resistência visceral à libido, ao impulso sexual, à própria força vital pulsando em nossos corpos.

Ela vem após o trânsito peculiarmente complexo da Lua Negra Lilith em Áries, que foi netunizado pela quadratura entre Marte e Netuno em seu ingresso, como já expliquei anteriormente, quando o impulso visceral para agir e responder com precisão, típico da Lua Negra em Áries, foi neutralizado e anestesiado pela névoa desviante de Netuno e o medo do contágio.

Os protestos em todo o mundo estavam aumentando exatamente quando o CoVid-19 o atingiu. Para onde iria toda a fúria dos Raging Twenties (Furiosos Anos 20) agora? Qualquer ação possível teria que encontrar caminhos de ninja. Manter um corpo vibrante tornou-se o desafio básico do guerreiro e da guerreira, na medida em que bloqueios e os muitos tipos de restrições físicas foram repentinamente impostos. O desejo, visceralmente intensificado, de se mover e existir enfrentou peculiares desafios jamais antes vistos.

Em outubro de 2020, uma estranha sensação de “se acostumar” com os “novos modos” impostos, bem como a resistência a ser moldado subjetivamente por eles, passam a ser a questão.

Como as restrições físicas afetam nossa subjetividade? E como a dimensão psicológica do estado atual do mundo, sob estado de CoVid-19, está afetando nossos corpos e moldando nossa percepção da realidade concreta? Estas são questões cruciais durante o trânsito de Lilith da Lua Negra em Touro.

Lua Negra Lilith (LNL) diz respeito, em astrologia, à dimensão mais visceral de nossa experiência. Relaciona-se com o que Jacques Lacan chamou de Real – a experiência bruta de estar em um corpo físico, esse pedaço de carne que habitamos, a dimensão daquilo que não pode ser totalmente elaborado por meio de palavras e imagens (as outras duas dimensões da experiência humana, o Simbólico e Imaginário), a própria dimensão do Impossível.

Em signos de terra, como Touro, a Lua Negra é uma resistência visceral aos impulsos básicos. Nesse caso, o impulso da sexualidade e da transformação, questão de vida ou morte.

No signo fixo de Touro, a Lua Negra opera com nosso Imaginário, articulando-se com as ideias e concepções que contribuem para moldar nossa própria existência física. Esta posição LNL é surpreendentemente potente em como pode afetar o corpo físico e mesmo somatizar, materializar questões a serem vivenciadas em um nível mais concreto. A ligação entre o psicológico e o físico é ainda mais enfatizada por esse trânsito.

artista desconhecido 

A resistência visceral do elemento Terra à libido e à transformação irá suscitar questões relacionadas não apenas ao corpo, mas à matéria – de muitas maneiras, possivelmente afetando outros tópicos taurinos típicos, como dinheiro e finanças, objetos e recursos, prazer real versus indulgência compulsiva, merecer e valorizar, o toque e as texturas.

Fundamentalmente, trata-se de como nossa experiência física é moldada e quais suas implicações subjetivas.

Formações naturais na Capadócia – o mapa astrológico da Turquia tem Lua Negra Lilith em Touro.

Em uma nota importante, Black Moon Lilith pode ser um indicativo tanto de dificuldade visceral quanto de potencial para um talento visceral, relacionado ao signo em que está. Refere-se a falta ou excesso de algo, bem como ao potencial de um domínio, maestria que resulta de conhecer profundamente um determinado desafio.

O que há de estranho nos temas taurinos? E quão visceralmente sublimes eles podem ser?

Observar aqueles que têm a Lua Negra em seus mapas astrológicos natais na posição em questão é sempre uma maneira mais tangível de compreender do que se trata o trânsito.

Bastante interessante e instrutivo considerar estas duas pessoas em paralelo, visto que ambas estão claramente preocupadas com a articulação do corpo e da mente, embora de maneiras radicalmente distintas: René Descartes e Wilhelm Reich.

Comecemos com o pai da dicotomia cartesiana, o filósofo René Descartes, que concebeu a mente e o corpo como duas substâncias completamente diferentes, radicalmente separadas uma da outra. Descartes chegou conceber-se “uma coisa pensante” e argumentando haver provado que conhecemos a existência da mente melhor do que conhecemos a existência do corpo.

O psicanalista Wilhelm Reich, por outro lado, investigou como corpo e mente se entrelaçam. Como a psique afeta o corpo e como o corpo molda a mente?

De acordo com o Dr. Wilhelm Reich, estados emocionais se manifestam no corpo criando o que ele cunhou uma couraça (ou armadura). A couraça é a contrapartida somática das defesas psíquicas. Pode ser entendido como um bloqueio da libido, da força vital no corpo, restringindo-a de uma forma que diminui a plenitude da vida de uma pessoa, seu desenvolvimento e florescimento subjetivo. Quando as sombras controlam nosso corpo, essas couraças controlam a maneira como pensamos, conhecemos e sentimos.

Para Reich (Wilhelm), o fascismo reside não apenas em procedimentos externos, mas dentro dos humanos e em sua prática em um nível muito pessoal.

Desbloquear a energia vital retida na couraça, libera o fluxo da vida não apenas no nível físico, mas também subjetivamente, afetando como a vida é percebida e vivenciada.

 

“Uma vez que nos abrimos para o fluxo de energia dentro de nosso corpo,

nós nos abrimos para o fluxo de energia dentro do Universo. ”

Wilhelm Reich

 

Vivienne Westwood, estilista e mãe do punk, desconstruiu as roupas de sua adolescência em Londres em um visual que lançaria milhares de alfinetes, correntes e amarras na moda. Customizando roupas, ela evidenciou restrições e desmontou couraças.

Sensível às incongruências da sociedade e crítica ao mundo insustentável do capitalismo, ela denunciou o Rot Dollar (2019). “Dizemos que a superpopulação é um problema, esfaqueamento é um problema, mas todas essas coisas são resultado direto do sistema financeiro podre”, diz Westwood.

Atenta ao poder suave e persuasivo da forma ao entregar um conteúdo  – ou, como ela diz, “você está linda, as pessoas vão ouvir mais você” – Vivienne defende com veemência Cultura, não Consumo (temporada de verão 2016), reciclando suas próprias roupas, mas fazendo objetos notáveis de desejo, como seu  emblemático e requintado espartilho:

 

“Les Femmes ne connaissent pas toute leur coquetterie.” (As mulheres não conhecem toda a sua coqueteria.)

Outro estilista, de estilo diferente, Valentino, abraçou totalmente seu amor pelos objetos e a sofisticação das texturas.

Textura é uma palavra bem Lua Negra em Touro. A textura resultante da resistência visceral à libido pode dar forma ao apetite de várias maneiras – inclusive em texto, dando-lhe um contorno tangível, como nos escritos de Fernando Pessoa, Edgar Allan Poe ou Bob Dylan.

Do compositor de Visions of Johanna, passamos ao compositor de Johannes Passion, Johannes Sebastian Bach. Suas explorações musicais expressam a ordem do universo físico e biológico em harmonias sofisticadas, escritas para expressar a beleza divina em toda a criação. Uma de suas peças mais elaboradas tem um título bastante interessante: Widerstehe doch der Suende, ou simplesmente Resista ao Pecado.

Rudolf von Laban, artista e teórico da dança, estava visceralmente atento à extensão do corpo no espaço, em volume e profundidade, observando a relação entre corpo, espaço, esforço e forma.

Seu trabalho em dança expressionista é considerado como tendo liberado o movimento de suas restrições formais.

 

“Para cada contração muscular, há um relaxamento.”

Rudolf von Laban

 

O precioso mestre de tango Rodolfo Dinzel destacou a distinção entre “la forma y la manera”, enfatizando a maneira como o bailarino apresenta a forma. Não é apenas uma questão de formar uma determinada forma, mas de que maneira esta forma é feita. Em outras palavras, como a força vital pulsa de uma certa maneira para criar a forma é que é a questão.

Texturas, texturas – em textos e letras, na harmonia musical, nas formas formadas pelo corpo de um bailarino, nos efeitos do pincel de Van Gogh na tela, nos objetos de desejo e no desejo por objetos, bem como na percepção do que é estranho no tecido da economia e das finanças.

O presidente argentino, Néstor Kirchner, colocou todos os seus esforços e pagou a dívida com o FMI em 2005, tirando a Argentina de suas garras. Na década seguinte, porém, Mauricio Macri, na cadeira presidencial, entregou o país novamente ao FMI. Dois lados da moeda da Lua Negra em Touro.

Neste trânsito, quando possível, é aconselhável encerrar dívidas e liquidar pendências materiais – melhor resolver e não criar, desvinculando-se de questões materiais que possam estar bloqueando o fluxo de energia na vida.

A vida de opulência e extravagantes excessos da ingênua Maria Antonieta em detrimento do povo rendeu-lhe o apelido de Madame Déficit e acabou levando-a para a guilhotina.

Isso não quer dizer que a abundância e o desfrute dos bens não sejam aconselháveis ​​durante este trânsito – não. Na verdade, é aconselhável! Mas no fluxo adequado com a vida, onde matéria e recursos são apreciados e não abusados.

Mencionando o abuso de recursos em detrimento do povo, um evento vem à mente: a Grande Reinicialização (Great Reset) do Fórum Econômico Mundial – um evento no final de janeiro de 2021 mas, mais do que isso, um plano por parte dos 0,001%  para reformular o capitalismo e evitar a Grande Mutação do sistema-mundo. Ao supostamente mudar de Capitalismo de Acionistas para Capitalismo de Partes Interessadas, Karl Schwab e a equipe de Davos pretendem apaziguar as massas famintas e desempregadas. Operando a narrativa para uma “tão necessária reinicialização” da economia e do mundo, pretendem reinicializar o mesmíssimo sistema, só que desta vez com esteróides, com a ajuda de avanços tecnológicos como inteligência artificial, engenharia genética e a digitalização da vida.

Quem é o dono da terra? Quem controla o dinheiro – não apenas a grana pesada, mas também os seus próprios meios de pagamento no dia-a-dia? O que entra em seu corpo? Quem decide?

“Você não terá nada e será feliz”, dizem. Mas os bilionários possuirão tudo.

Isso nos traz às questões do principal aspecto da Lua Negra Lilith durante este trânsito: sua conjunção com Urano.

 

 

Por si só, a conjunção Lua Negra Lilith-Urano seria um evento significativo, mas ainda mais quando Urano é o dispositor da Grande Mutação (um dos aspectos mais importantes acontecendo em pelo menos um par de séculos) e ainda, se isso não fosse suficiente, a conjunção exata de LNL-Urano acontece a menos de 24h da conjunção exata de Júpiter-Saturno, que marca a Grande Mutação.

URANO EM TOURO (2018-2026):

Mudanças na maneira como concebemos a matéria e as coisas materiais. Desapego da matéria. Sublimação da matéria (o sólido se transforma em gás). Digitalização do dinheiro e criptomoedas. Automação. Avanços tecnológicos que se materializam. Matéria que altera a tecnologia. Tecnologia vs. Organicidade.

…com LUA NEGRA LILITH EM TOURO:

O orgânico tem que lidar com o tecnológico, e o tecnológico tem que incluir o orgânico. Não há como impedir os avanços tecnológicos. No entanto, os avanços tecnológicos devem honrar a dimensão orgânica da vida. Embora muito seja cada vez mais digital e virtual, nossa vida aqui na Terra não pode se sustentar sem o corpo. Vamos avançar muito tecnologicamente, mas há uma dimensão orgânica que não pode ser ignorada.

Isso é o que Lua Negra Lilith nos ensina por estar em conjunção exata com Urano, o dispositor da Grande Mutação, divinamente sincronizado no exato momento da conjunção Júpiter-Saturno.

Nossos CORPOS agora são otimamente corpos de desejo, no sentido psicanalítico, corpos pulsantes em força vital, com libido, a força criativa da vida, não meros pedaços de carne objetificados e administrados por tecnologia.

O potencial nefasto da ênfase aquariana é o controle da sociedade por meio da tecnologia. O chamado Great Reset, defendido por Karl Schwab, como seu porta-voz e cara oficial, é um plano assustador que os ultra-ricos estão tentando impor à humanidade, como forma de evitar o “caos multipolar”, mais levantes sociais e revoluções.

As forças que tentam reconfigurar o sistema em colapso em formas ainda mais precárias à população são poderosas e um novo sistema mundial pode parecer impossível. Mas este é precisamente um momento – não apenas este período de LNL em Touro, mas o ciclo maior em que esta se marcou quando em conjunção com o dispositor da Grande Mutação… Este é precisamente um momento para dar corpo ao impossível.

A Lua Negra, para que não esqueçamos, tem o potencial tanto para o aterrorizante quanto para o sublime.

A Lua Negra Lilith em Touro trata de moldar a força vital em nós, com o potencial de embelezar nossa existência e aprimorar a textura de nossa arte e a arte de nosso viver, Dando Corpo ao Impossível.

Por Vanessa Guazzelli

 

Nativos de Lua Negra Lilith em Touro:

Wilhelm Reich, Renée Descartes, Edgar Allan Poe, Fernando Pessoa, Bob Dylan, Johannes Sebastian Bach, Néstor Kirchner, Vincent Von Gogh, Rodolfo Dinzel, Rudolf on Laban, Yasmin Meera, Turkey (the country), Shakira, Marie Antoinette, Jacques Chirac, Mauricio Macri, Vivienne Westwood, Valentino.

 

 Bellydancer Aysha Aimee dando corpo à Lua Negra em Touro.